AULA INTERDISCIPLINAR
Cristiane Conceição de Santana
Flávia Regina de Santana Evangelista
Rebeca Rodrigues de Santana
Thaís Regina Conceição de Andrade
Data de publicação: 07/10/2014
Realizar uma aula interdisciplinar, resumidamente, é assiciar conteúdos de diferentes disciplinas aos conteúdos e práticas da disciplina ministrada pelo professor.
A interdisciplinaridade é recomendada pelos PCNs, e p professor de língua portuguesa, por trabalhar com textos tem maior liberdade para abordar em sala de aula temas de outras disciplinas, bem como temas transversais.
O texto "Os reis do pedaço", de Paulo Souza, é bastante recomendável para a elaboração de uma aula utilizando os temas interdisciplinares: ciências e geografia, e para abordagens dos temas transversais: meio ambiante e ética, pois retrata, de forma rimada, uma pequena história na qual os personagens são aves da fauna brasileira.
São mencionados no texto também elementos da flora e espaços geobráficos, e ao final aparece uma lição de ética a qual pode ser direcionada pelo professor á cidadania na sociedade.
OS REIS DO PEDAÇO
Era uma manhã das de sempre
num capão do Pantanal
ou talvez na Bodoquena...
– não, não sei bem o local.
Era uma manhã confusa:
meio rara, algo banal.
O sol se partia em mil
nas gotas frescas do orvalho
as árvores bocejavam
balançando os longos galhos
a taboquinha era flauta
e os grilos eram chocalho.
Era farta primavera:
abelhas pra todo lado,
frutos davam a sua carne,
flores jorravam melado...
Troncos cuspiam filhotes:
patinhos pretos, dourados.
Como diria o Chicó
que mora dentro de mim,
não sei bem como é que foi,
eu só sei que foi assim
que o Caburé exclamou
dentro de um alto angelim:
– Ai, que bom espreguiçar,
sestear depois que caço...
Morar numa cobertura
de um tronco, ser um ricaço...
Como é bom, mesmo miudinho,
ser o tal... rei do pedaço.
O Falcão-peregrino retrucou:
– Eu sou o dono do pedaço!
Fora! Xô, seu... pigmeu.
Sou letrado, caburé,
no continente europeu.
Olhe bem pras minha garras...
repare que o rei sou eu.
Entra o Pica-pau-rei:
– Eu também tenho direito
sobre essa tosca madeira
pois cheguei aqui primeiro.
Não estou pra brincadeira.
Se vocês quiserem briga,
eu derrubo a mata inteira!
– Quando nem buraco havia
comecei a trabalhar
nessa vil madeira morta
para o oco iniciar.
Sou do desenho animado,
mereço me instalar.
– Eu tenho um bico alvinegro,
a mais vermelha das penas,
lindos olhos, asas verdes...
Sou artista de cinema!
O buraco é meu, pois sou
a dona da Bodoquena.
– E daí, qual é o problema?
Parem de falar besteira.
Sou a maior e a mais linda
das araras brasileiras.
Trago o azul do mar nas penas
e o sol nas minhas olheiras.
– “Peraí”, gente. Qual é?
Esse oco é meu. Tem mais:
antes de 1500
já era o rei dos quintais.
Além disso, eu sou cantiga
do Vinícius de Moraes.
– Alto lá! Êpa! Tem gente!
Eu reformei este ninho.
Botei fora o caburé.
Enxotei o gaviãozinho.
Daqui não saio. Reparem
que eu sou um nobre vizinho.
– Cal-cal-calma lá! Nesse oco
botarei meus dois ovinhos.
Afinal, tenho olhos verdes
neste rosto tão branquinho...
Trago o azul, tenho o dourado
da Seleção Canarinho.
– Chega pra lá, sua amarela!
Cruza de águia! Monstrengo!
Esse oco é meu! Só meu.
Chega de história e de dengo.
Sou o rei dos céus. Mereço
pois sou forte, sou Flamengo.
– Sou o dono do buraco
meu povo amado, minha gente,
pois sou bom de bico, e até
ao comer, planto as sementes.
Não bastasse isso, inda sou
amigo de ex-presidente.
O urutau que a tudo via
com sua sábia paciência
gritou para a bicharada:
– Que falta de complacência.
Há lugar pra todo mundo
quando se tem consciência!
Com seus olhos semi-abertos
para a luz, bico empinado,
Urutau falou, de um galho,
dormindo meio acordado:
– Essa briga é porque o mundo
está desorganizado.
– Cada qual com seu papel!
Todos têm o seu valor!
Todos são nobres e sábios.
É bonita toda cor!
Não existe tolerância
quando não existe amor.
– Organizando a bagunça:
buriti pra canindé,
pro pica-pau: bocaiuva;
angico pro caburé.
E pra grande araraúna,
manduvi será chalé.
– E se o tronco for o mesmo
disputado por vocês
numa mesma primavera,
é preciso sensatez.
Se não chegou a sua hora,
então, que espere a sua vez.
– Ou então, façam o seguinte:
quando o tempo for passando,
de pata em pata – ou de bico –,
que o ninho vá se moldando
segundo a necessidade,
de acordo com seu tamanho:
– Vem, primeiro, o pica-pau;
em seguida o tronco ampara
a nobre maracanã...
Tantos caberão, tomara:
o tucano, o urubu
e, por fim, a grande arara.
– Vamos combinar uma coisa?
Façam a reprodução
em períodos separados,
com farta alimentação...
Cada qual no próprio tempo...
Troncos à disposição.
Em meio a tantos doutores
de olhos grandes, acurados,
foi o urutau quem viu,
estando de olhos fechados:
– Há lugar pra todo mundo
num mundo civilizado!
– Discriminar é julgar,
antes que o tempo revele,
a história de cada um
e a cultura que se expele.
Não se conhece por fora
o que está dentro da pele.
– Há lugar pra todo mundo:
branco, preto, azul, dourado...
Sempre haverá um cantinho
no ambiente equilibrado.
Há lugar quando, pra todos,
direitos são respeitados.
Vendo, enfim, que a boba briga
encontrou um bom final,
o tal “pássaro-fantasma”
dos índios, o urutau,
voltou a dormir, esguio,
disfarçando-se de...
pau.
• • •
Como diria o Chicó
que mora dentro de mim,
não sei bem como é que foi,
eu só sei que foi assim
que uma corriqueira história
encontrou seu próprio fim.
PAULO ROBSON DE SOUZA
FONTE: https://paulorobsondesouza.blogspot.com.br/2012/11/os-reis-do-pedaco.html
SUPORTE PARA A AULA
Plano de Aula
- Tema: A leitura como prática interdisciplinar.
- Conteúdo:
- Intertextualidade;
- Um pouco sobre a fauna e a flora brasileiras;
- Reflexões sobre ética e cidadania;
- Reconhecimento do gênero discursivo Literatura de Cordel.
- Objetivo Geral: promover a interdisciplinaridade no ensino de língua portuguesa.
- Objetivos Específicos: promover uma ponte entre o conhecimento acerca do meio ambiente, da igualdade social, cidadania, ética e o ensino de língua portuguesa, bem como as principais características de um gênero discursivo, a literatura de Cordel.
- Metodologia:
- Apresentação e leitura do texto “Os reis do pedaço”, de Paulo Robson de Souza, anexo 1;
- Exibição de slides com imagens das aves e do espaço geográfico referidos no texto, anexo 2;
- Promoção de debate a respeito do comportamento dos pássaros e em especial da fala do Urutau, relacionando á cidadania e a ética, elemento essenciais para o bem viver em sociedade;
- Estimular o reconhecimento das principais características do gênero discursivo Cordel (narrativa em versos e rimas).
5. Recursos: texto impresso, computador e projetor de vídeo.
6. Avaliação: Debate em classe e exercício, anexo 3, visando interpretação e posicionamento crítico com a atividade de leitura, bem como o reconhecimento das característicasdo gênero trabalhado; e uma produção escrita a partir do texto proposto, direcionada a personagem Urutau, a respeito da lição de cidadania e ética que este dirigiu as demais personagens.
7. Referências Bibliográficas:
BRASIL / Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1997.
Exercício
1. Quem são as personagens da história, e em que ambiente esta se passa?
São aves da fauna brasileira. A história se passa provavelmente na floresta, segundo o narrador, talvez no pantanal ou na Bodoquena.
2. Em que região do país se passa a história? Justifique a sua resposta.
A história se passa provavelmente na região centro-oeste, pois é onde estão o pantanal, um tipo de vegetação, ecosistema, nos estados de mato grosso e mato grosso do sul; e a serra da bodoquena, que fica no mato grosso do sul.
3. No texto, é iniciada uma disputa entre as personagens, por quê?
Porque todos brigam pelo mesmo espaço, pelo tronco da árvore, e também porque se julgam superiores uns aos outros.
4. Quem interrompe a briga? O que ele diz para os demais?
O urutal. Ele tenta mostrar que há lugar para todos na floresta, é só uma questão de todos esperarem por sua vez e desempenharem o seu papel respeitando o próximo.
6. Quais são as principais características na estrutura do texto?
Ele é formado por frases curtas, chamadas de versos, e possui rimas no fim destes.
7. O texto se aproxima de que tipo de produção textual?
A literatura de cordel
8. Você concorda com o Urutau? Por quê? Produza um texto direcionado a ele com sua opinião.